As maiores catarses que tive na minha vida não foram no palco. Foram dentro de táxis. Sério. Meus momentos de epifania quase sempre aconteceram no banco de trás de um carro em movimento.
A primeira vez foi quando da minha reconciliação com a cidade do Rio de Janeiro, três anos depois de ter saído de lá, onde morei, trabalhei e estudei. Saí brigado com o Rio, meio chateado com o jeito que a cidade me tratou, sem conseguir ter nenhuma relação mais profunda com cariocas, muito solitário. Meu primeiro "casamento" (morei junto com uma pessoa nos últimos sete meses que passei lá) tinha acabo de forma chata, a escola de teatro tinha sido concluída meio que nas coxas e não havia mais motivos fortes (na verdade nem fracos) para estar ali. Voltei algumas vezes depois, mas sempre com uma birra. Bem, foi neste carnaval (de 2004 ou 2005) que, numa quarta-feira de cinzas chuvosa, indo ao cinema, no trajeto Ipanema-Leblon, fiz as pazes com o Rio. Aceitei suas desculpas, ponderei a parte minha da culpa de nossa relação ter fracassado e decidi perdoar. Assisti "Em busca da Terra do Nunca" e chorei a sessão inteira. Na saída, muito mais leve, conheci alguém que acabou virando personagem importante por uns dias/meses. Desde então o Rio tem sido meu parceiro e, vez em quando, é pra lá que eu fujo pra devolver os ebós e viver a vida louca. Passei muitos dos meus últimos aniversários lá e é sempre bom, sempre muito simbólico.
A última grande iluminação que tive dentro de um táxi foi neste verão, coisa de uma semana atrás, ao voltar da praia de Tambaba. O arco-íris mais lindo que já vi na minha vida enfeitava aquele céu escandaloso da Paraíba. Ali, sem amarras, entreguei o resto das dores do recente amor que fracassou. De novo aceitei minha parcela de culpa no processo, liberei o perdão que tanto mantrei nos últimos meses e comecei a esquecer em definitivo. Fiz as pazes comigo mesmo. Eu estava com tanta saudade de mim. Me reencontrei e quando me vi achei que to bem, to voltando a ficar inteiro e não há mais arrependimentos. Gostei de me encontrar.
Um pouco da minha alma e muito do meu coração eu emprestei pra Paraíba. Daqui a pouco eu volto pra buscar. É que muito de mim ainda precisa de mais tempo de férias.